Com mudanças radicais de uma temporada pra outra, o Corinthians começou 2019/20 com dois novos atletas de garrafão. Dois gringos; David Nesbitt e Anthony Johnson. O primeiro muito conhecido da torcida brasileira. Nesbitt é bicampeão do NBB com Flamengo e Paulistano, já o pivô norte-americano ainda não havia jogado por um clube brasileiro.

Mas vestir a camisa do Corinthians não foi seu primeiro contato com o Brasil. Em 2016, o jogador, que defendia as cores do Bahía Basket-ARG, encarou o Mogi das Cruzes na final da Liga Sul-Americana e acabou sendo derrotado por 3 a 0, na série melhor de cinco.

Anthony Johnson, de 31 anos, chegou a equipe do Parque São Jorge com status de titular. Na sua última temporada na liga argentina, o camisa 32 teve médias de 5,8 pontos e 3,8 rebotes por jogo.  Mas seus maiores números são de 2016/17, quando sua equipe foi finalista da LSB; foram 15.4 pontos e 7.3 rebotes por partida do pivô.

O que o jogador fazia em quadra na Argentina?

Em sua passagem pelo Bahía Basket, que começou em 2015 e terminou no ano passado, Johnson não enfrentou pivôs fisicamente semelhantes à ele, e o norte-americano aproveitou muito essa vantagem.  No vídeo abaixo, um jogo em que o atleta anotou incríveis 31 pontos e pegou 17 rebotes.



É possível ver como Anthony Johnson consegue usar seu porte físico para sobressair diante de seus  adversários e ajudar sua equipe a pontuar de diversas formas diferentes.
No Bahía Basket, Johnson não se limitava a somente jogar próximo à cesta. O pivô iniciava muitas vezes as jogadas de ataque da equipe argentina, espaçando bastante a quadra para os jogadores mais baixos trabalharem. Assistência também era uma grande arma do jogador norte-americano em seu período na Argentina.

Mas talvez o que mais distancie o bom desempenho de Johnson na liga argentina para a apagada temporada até aqui no NBB, seja a mudança no estilo agressivo dentro das quatro linhas.

O camisa 32 era um jogador muito intenso com a camisa do Bahía Basket, nos dois lados da quadra. Ganhou o peso de líder da equipe por se impor dentro do garrafão e brigar por todos os rebotes. Uma das principais características na Argentina era seu rebote ofensivo, que com a camisa do Corinthians é extremamente baixo; 1.33 por jogo.


Por que o Anthony Johnson não consegue jogar no Brasil?

Mobilidade é o grande ponto. Olhando para o desempenho de Anthony Johnson jogando com a camisa do Bahía Basket, pelo campeonato argentino, e seu jogo no Corinthians, no NBB, podemos ver a diferença no trabalho de garrafão praticado nas duas ligas.
Todos os pivôs que se destacam atuando no Brasil, possuem muita mobilidade na área pintada e na ajuda aos armadores.
O jogador norte-americano não conseguiu ainda se adaptar a esse jogo rápido dos jogadores mais altos e encontra enormes dificuldades nos confrontos próximos à cesta.

Com 120 kg e 2,01 de altura, o camisa 32 do Corinthians é um jogador bastante pesado comparado aos pivôs com as melhores médias de rebotes do NBB. O blog fez um levantamento comparando números de Anthony Johnson com jogadores de um porte físico parecido.
  • Anthony Johnson (Corinthians) - 2,01 altura e 120kg. (3.5 rebotes por jogo)
  • Paranhos (Mogi) - 2,04 altura e 110kg. (7.14 rebotes por jogo)
  • Felipe (Basquete Cearense) - 2,03 altura e 100kg. (8.25 rebotes por jogo)
  • Scott (Minas) - 2,06 altura e 111kg. (7.84 rebotes por jogo)
  • Dikembe (Paulistano) - 2,06 altura e 108kg. (7.80 rebotes por jogo)
  • Olivinha (Flamengo) - 2,03 altura e 100kg. (6.27 rebotes por jogo)
  • Ronald (Brasília) - 2,11 altura e 104kg. (7.40 rebotes por jogo)
Anthony Johnson sofreu em todos os jogos grandes do Corinthians no NBB. Os confrontos de poste baixo no Brasil exigem muita agilidade e rapidez nos movimentos, e, o camisa 32 teve enormes dificuldades nesse aspecto. 

Um número muito curioso evidencia a terrível temporada do jogador com a camisa do Corinthians. Por mais bizarro que possa parecer, Anthony Johnson tem uma média de rebotes inferior ao armador Dawkins, do Pinheiros, que possui apenas 1.68 de altura. E esse número fica ainda mais inacreditável se falarmos em rebotes defensivos. A média do pivô corinthiano é de 2.21 por jogo enquanto que a do jogador pinheirense é de 3.13.

Seu jogo não encaixou com Fischer e Fuller

Quando chegou ao Corinthians, Anthony Johnson passou a impressão de que seria um pivô que ocuparia muito espaço na área pintada, mas também seria muito eficiente na ajuda aos armadores.
Nos primeiros jogos do Corinthians na temporada, ou seja, no Campeonato Paulista, enfrentando equipes tecnicamente inferiores, Johnson conseguiu executar bem esse trabalho de pick and roll com Fischer e até com Arthur Pecos.

Ao longo das partidas, o norte-americano não foi capaz de acompanhar a intensidade de Fischer e Fuller nos movimentos de armação de jogada e caiu drasticamente de rendimento, perdendo assim a titularidade absoluta na equipe do Parque São Jorge.
O jogador perdeu tanto espaço no elenco que o treinador Bruno Savignani colocou ao menos dois jogadores reservas à frente do americano; Wesley Castro e Douglas Santos.

Na Liga Sul-Americana deste ano, por exemplo, o técnico corinthiano optou por inscrever Tracy Robinson e cortar o nome de Anthony Johnson da lista de atletas alvinegros na competição internacional. Somente três estrangeiros por equipe podem ser inscritos na LSB, e, na oportunidade foram Fuller, Nesbitt e Tracy Robinson).

Poderia encontrar outras formas de jogar?

Sim. É notório que o peso do atleta afeta diretamente seu rendimento aqui no Brasil, mas Johnson pode trabalhar para encontrar outras maneiras de encaixar seu jogo e conseguir ajudar o Corinthians. Isso, é claro, passa muito pela forma em que o treinador Bruno Savignani enxerga o jogador. 

Talvez, Johnson poderia intensificar os treinamentos em chute de media distância, já que fazia isso no Bahía Basket. Treinar situações de ataque para receber a bola em condições de chute poderia ser uma das alternativas para melhorar o desempenho e o aproveitamento do jogador de 31 anos.

Mas com médias de apenas 12 minutos de quadra, parece que um ponto final no casamento entre Corinthians e Anthony Johnson está se desenhando ao fim da temporada. O pivô não deve receber um aumento em sua minutagem de quadra e pode deixar a equipe do Parque São Jorge após o término do NBB.

Foto: Ale da Costa



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